Série de 12 episódios, escrita por Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão, com direção artística de José Luiz Villamarim, exibida às terças-feiras, após a novela das 21 horas.
“Nossa história é uma ficção, com alguma liberdade criativa, sobre o nascimento daquilo que viria a ser uma paixão dos brasileiros: as telenovelas”, disse Guel Arraes em entrevista.
Apesar de se passar por volta da década de 1950, a série não tem caráter documental.
“A televisão é uma subtrama, um charme. Tem algumas informações, algumas curiosidades dos bastidores do início da televisão no Brasil, mas o drama pessoal, a história dos personagens é o foco principal”, informou Jorge Furtado.
Nada Será Como Antes não segue um rigor histórico.
“É ficção total, inclusive tem várias licenças que a gente toma, como quando foi a primeira novela. Novela diária só começou em 1962. Antes, era só às terças e quintas. É ficção baseada em fatos reais.”, explicou João Falcão.
“Fomos bastante fieis aos acontecimentos políticos, culturais, esportivos do país, mas tomamos muitas liberdades quanto à ordem dos acontecimentos na história da televisão”, complementou Guel.
José Luiz Villmarim salientou: “A série é baseada em fatos reais, mas é uma obra de ficção. No fim dos anos 50, por exemplo, a novela no Brasil era exibida duas vezes por semana. A nossa vai ao ar todos os dias. É interessante que tenhamos essa liberdade. Não é uma produção documental.”
Os figurinos unem o glamour e o dia a dia da sociedade das décadas de 1940 e 1950. Misturando essa ideia às referências de artistas, o figurinista Cao Albuquerque optou por trabalhar com uma paleta de cores mais sóbrias.
“Eu quis contar uma história em preto e branco num seriado que será colorido”, explicou. “Saulo [Murilo Benício], por exemplo, será um homem prático, de negócios, e estará sempre com coletes e suspensórios em tons de cinza ou marrom.”
Para Verônica (Débora Falabella), a principal referência foram as cantoras do rádio: “As cantoras tinham mais glamour naquela época, em que nossas grandes atrizes estavam do teatro.”
A ousadia no figurino estará no guarda-roupa de Beatriz (Bruna Marquezine). Como uma mulher à frente de seu tempo, a personagem não vai economizar nas transparências, rendas e decotes.
“A Beatriz tem um sex appeal que foi buscado na Jane Mansfield, na Rita Hayworth e na Marilyn Monroe, mulheres que revolucionaram sexualmente os anos 50”, analisou o figurinista.
Para a caracterização, as referências foram encontradas na moda da década de 1950.
“Fui em Channel, Cristian Dior e nos demais grandes nomes da moda. Para compor Saulo e Verônica, me baseei em um editorial de moda com Marcello Mastroianni e Anouk Aimée que, assim como a nossa personagem, usava cabelos curtos”, contou a caracterizadora Lu Moraes. A exceção é Beatriz, que teve seu visual inspirado na modelo contemporânea Dita Von Teese.
Os destaques, tanto no figurino quanto na caracterização, podem ser conferidos especialmente nos momentos em que a novela Anna Karenina for encenada dentro da série com roupas e perucas do século 19. Na série, as novelas ganham um requinte de produção para justificar o fascínio que a tevê viria a exercer, representando a sua força e poder. Além destes, outros momentos na trama que chamam atenção pela exuberância das roupas – tanto do elenco principal quanto da figuração – são o baile de carnaval e a festa de ano novo, dois acontecimentos que mobilizavam a sociedade carioca.
Responsável pela produção de arte de filmes como Ensaio Sobre a Cegueira, Cidade de Deus e Tropa de Elite, Tulé Peak faz sua estreia na TV. Tendo como ponto de partida o momento histórico em que se passa a série, Tulé trouxe para a produção de arte e para a cenografia, assinada em conjunto com Pedro Équi, esse contorno de progresso. A produtora de tevê e a casa de Saulo, são a maior representação dessa ideia de futuro que permeia toda série.
“Tudo que envolve o universo deste personagem tem um quê de vanguarda. Da casa em que ele vive à sua produtora, tudo deve representar esse olhar adiante”, revelou Pedro.
Na casa de Saulo o mobiliário e obras de arte privilegiam nomes brasileiros que despontavam na época, como Sérgio Rodrigues e Portinari.
“O estilo da casa de Saulo mistura o art déco e o modernismo arquitetonicamente, mas com uma decoração contemporânea da década de 50. Ele é um homem antenado a tudo o que rolava de mais moderno na cultura do seu tempo. Em contraposição, a casa de Pompeu (Osmar Prado), um homem apegado a tradição, tem um ar clássico, palaciano”, complementou Tulé.
O maior exemplo da cenografia e produção de arte como representação da visão de Saulo é a estação de trem do cenário da primeira telenovela produzida pela TV Guanabara, Anna Karenina. Ao produzi-la, Saulo deveria arrebatar o público e convencer os anunciantes sobre o potencial do gênero. Para tanto, não poupou esforços. O personagem recria em estúdio uma estação de trem russa, em pleno inverno, com direito a neve artificial e uma locomotiva de 15m de comprimentos por 3,5m de altura que se movimentava em um trilho de 100m de comprimento.
“Este foi um grande desafio, fazer com que o trem coubesse no estúdio, permitisse movimento e que fosse manual para ser algo apropriado para época. O material teve que ser o mais leve possível, mas com estrutura para comportar as pessoas”, contou Pedro Équi.
“A televisão nos seus primórdios era mais simples, um cenário como este não existiria. Mas a intenção é mostrar a ambição do Saulo e o crescimento dessa transposição do rádio para a tevê. Para isso, enobrecemos a produção, mas tivemos como base uma ampla pesquisa. Não é um registro histórico, mas temos parâmetros”, reforçou o produtor de arte Tulé.
Assim como este, outros cenários de novelas e programas foram inseridos no cenário da fictícia emissora. À época, era comum galpões industriais serem adaptados para estúdio. Sendo assim, os Estúdios Globo foram cenografados em 360 graus, como um galpão, dando a ideia de se estar em uma locação externa. A planta é em formato de U, de forma que a câmera circule com fluidez pelos ambientes da TV Guanabara, provocando diferentes sensações.
“As câmeras precisam percorrer os espaços. É um labirinto, um percurso. Elas vão acompanhando o ator, mostrando a dinâmica dos bastidores da televisão: camarins , corredores de serviço, swticher, área técnica de áudio e a sala do Saulo com vista panorâmica”, disse Pedro Équi.
Em relação aos objetos de época, como câmeras e rádios, muitos foram adquiridos de colecionadores e até mesmo de museus dando todo o charme da produção.
A produção musical – de Eduardo Queiroz – prima pela elegância e sofisticação e é parte fundamental da história de Nada Será Como Antes. Está presente o jazz dos anos 50, base para todas as performances do elenco, como o número de Beatriz em “The Man I Love”, de Billie Holiday. Em ocasiões como essa, o elenco tem suas vozes captadas ao vivo, para manter o calor e a emoção da cena.
Há mais de 90 intervenções musicais no roteiro, cada uma delas traz a nostalgia e o glamour do período. No repertório, canções que vão de Lamartine Babo e Silvinha Telles a Ella Fitzgerald e Nina Simone, entre outras.
Além das canções, há 25 músicas criadas para as vinhetas dos programas, radionovelas e telenovelas que se passam dentro da série. Para diferenciar essa trilha da trilha da narrativa dramática (dos personagens reais da série) foram compostos temas instrumentais originais, com uma estética mais contemporânea, menos presa ao estilo usado na época.